sexta-feira, 7 de março de 2008

CARTA PRA O CARNAVAL

Todo ano é a mesma coisa: você chega, fica aqui três dias e aí vai embora.
Volta um ano depois, todo animadinho, querendo me levar para a gandaia.
Olha, honestamene, cansei.

Seus amigos, bando de mascarados, defendem você.
Dizem que sempre foi assim, festeiro, brincalhão, mas que no fundo é supertradicional, e de raízes cristãs, e só quer tornar as pessoas mais felizes.

Para mim? Carnaval, desengano...você recorre à sua origem popular e incentiva
essas fantasias nas pessoas, de que você é o máximo, é pura alegria, mas não passa de entrudo mal-intencionado, um folguedo, que nunca viu um dia de trabalho na vida.

Acha-se a coisa mais linda do mundo e é cafonice pura. Vive desfilando pelas ruas, junto com os bêbados, relembrando o passado. Chega a ser triste.
Carnaval, você tem um chefe gordo e bobalhão que se acha um rei, mas não manda em nada. Nunca teve um relacionamento duradouro. Basta chegar perto de você e temos que agüentar aquelas fotos de mulheres nuas, que são o seu grande orgulho. Você não tem vergonha, não?

Sei que as pessoas adoram você, Carnaval, mas eu estou cansada dos seus excessos e dessa sua existência improdutiva. Seja menos repetitivo, proponha algo novo. Desde que o conheço, você gosta das mesmas músicas. Gosta de baile. Desculpa, mas estou pulando fora.

Será que essa sua alegria toda não é para esconder alguma profunda tristeza? Será que você canta para não chorar? Tentei, várias vezes, abordar essas questões, e você sempre mudou de assunto.

Ora, chega dessa loucura. Reconheça que você se esconde atrás de uma dupla personalidade.
Cada vez mais e mais pessoas ficam incomodadas com essa sua falsa euforia, fique sabendo.
Conheço várias que fogem, querendo distância das suas brincadeiras.
Você oprime todo mundo com esse seu deslumbramento excessivo diante das coisas, sabia?
Por exemplo, essa sua mania de camarote. Onde os vips podem suar sem que isso pareça nojento.
Onde se pode falar torto sem que seja errado. Todos vestidos de uniforme, senão não entram. Todos doidos para passar a mão na bunda um do outro.
Essa é a sua idéia de curtir a vida?

Menos purpurina, Carnaval. Menos bundas, menos dentes para fora. A vida é linda, mas a " lindeza do lindo mais lindo que há no lindíssimo" é um saco.
Um pouco de calma e autocrítica nunca fez mal a ninguém.
Tudo muda no mundo - por que você insiste em continuar o mesmo?

A harmonia vem da evolução, não das alegorias.
Chegou a hora de rodar a baiana para não atravessar na avenida.

Como será amanhã? Respona quem puder.
Beijos.


Fernanda Young



Postado por Hérika

2 comentários:

Anônimo disse...

"Menos purpurina, Carnaval. Menos bundas, menos dentes para fora. A vida é linda, mas a " lindeza do lindo mais lindo que há no lindíssimo" é um saco.
Um pouco de calma e autocrítica nunca fez mal a ninguém.
Tudo muda no mundo - por que você insiste em continuar o mesmo?

A harmonia vem da evolução, não das alegorias.
Chegou a hora de rodar a baiana para não atravessar na avenida."

Bom,eu não sei de que Carnaval você está falando,mas que eu saiba o carnaval evoluiu muuuitoooo desde seu limiar aos dias atuais,e continua evoluíndo.Qualquer indivíduo o mínimo interado om o mundo consegue ver isso."Menos purpurina,menos bundas,menos dentes pra fora"?!Então você acredita que assim o carnaval vai deixar de ser convencional?!Pois acho que com esta sua proposta apenas se inverte o sentido dessa suposta convencionalidade.Sinceramente,pra uma festa que acontece uma vez por ano e por tão poyuco tempo,não sei porque você faz tanta baldiação.A alegria é algo muito relativo,querida.Assim,se pessoas se sentem alegres no carnaval,quem é você para dizer que isto é errado?Gosto do carnaval,gosto muito de bundas (de mulheres),e gosto principalmente dos "dente pra fora" do povo feliz,mesmo que seja numa época tão relativamente improdutiva.

Duelo de Letras disse...

Meu querido,
Acho interassante quando alguém inteligente publica artigos inteligentes como esse da Fernanda Young, apenas o postei aqui no Blogger só isso, nem ao menos me pronunciei acerca dele nem disse se gosto ou não de carnaval. Somos estudantes do curso de Letras e somos motivados por matérias ricas e audaciosas como o dessa escritora. Bom, não gostei do seu tom pejorativo com relação a mim quando disse "quem sou eu pra dizer que isso é errado?", sem ao menos me conhecer, com certeza a Fernanda nem quer saber o que você acha ou não do artigo dela, ela apenas vive intessamente o que escreve. Eu a admiro muito.