quinta-feira, 17 de abril de 2008

Liquidificador

Agora vejo, meu amor, que nosso amor
Passou
Como um triturador de flor
A flor da pele, de tão flor, degredou
E vôou leve : isopor
Agora vejo, meu amor, que o segredo da maçã
Ganhou a acidez do beijo
E os aneis que revelavam a paz do nosso mundo
Se perderam dos dedos
E para as chaves da dor não há chaveiros
Agora eu te imploro em segredo:
Por favor, meu bem
Guarde meus sapatos e compre novos brinquedos
Deixa a flor do teu seio secar em outra mão
Deixa o mel dos teus olhos escorrer por outros olhos
e quando ele disser que te ama
Desfolhe o teu corpo em outra boca
Enquanto isso eu ficarei
A brincar de ser lobisomem
E me assutarei com outros homens
E quando a noite for pouca tú ouvirás um grito
Abafado, alcoolizado e rouco
E sentirás o sangue do prazer escorrer entre tuas pernas
E quando a noite for longa
Haverá a velha flor que tu me deste
Já seca mas ainda umida
Haverá vinho sobre a mesa
E para contemplar teu desamor
Haverá um fio de voz oca
Um corpo vazio,
um espaço vago,
Um riso irregular,
Algumas batatas podres,
Abacaxis e cebolas
E enfim, para liquidificar a dor,
Um liquidificador.

Edilberto Vilanova

Nenhum comentário: