quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Estou voltando...

Ontem, na hora do almoço, o feijão não me soou com o mesmo gosto e na cabaça já não mais se escondia aquele restinho de água que o sol da manhã me ajudou poupar. Depois do almoço, quando pontinhas de sono cobriam meus olhos, sonhei com carne de boi feita em panelas de ferro no fogão de vovó, lá nas bimbocas da cachininga. Velha de tempêro ardido e de uma mão divina no conduzir de uma panela.
Lembro-me também que nesta hora vovô chegava de uma espera de viado. Dizia ele ao chegar: "como ou não nessas encostas" e logo se agasalhava sobre os pés de uma cadeira, com fumo e palha de milho na mão começava a contar a mim e meus primos dos bichos e assombrações que o mesmo encontrou na noite que se foi no último nascer do sol. Eu e meus primos ouviamos!. Vovó pisava carne no pilão do alpendre e de lá vinha aquela vontade de que o almço chegasse logo.
Tio Toim chegava e contava que a sogra dele havia sido picada de cobra. Vovô brincava dando lhe os parabéns. Vovó logo o repreendia e já corria ao quarto da dispensa e de um buraco na parede arracava um pote de azeite de burití: grande brigador e combatente contra veneno de cobra na crendiçe dela. A velha sogra do tio tem o santo forte e sangue de mandipueira, graçejava vovô ao ouvir dizer que a envenenada já lograva melhora.
Naquela hora, mais calma, vovó deitava a panela na cozinha e, feito passarinhos, eu e meus primos nos chamavamos ao propósito dos nosso estomagos em aflição. Neste instante, um formigão malvado morde minha orelha e eu me dou conta do inferno que despoja meu corpo e o suor do meu rosto me traz a lembrança do restinho de água na cabaça.

Arlam Marques

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Epifania

E de repente, em mais um
Dos teus passos lentos
Tú toparás com um papel
Em branco à tua frente
Então o branco da vida
Se perderá no tempo
Dispersando tuas pétalas
Jogando tua grande rosa ao vento
Assim tú encontrarás tua alma
Como uma faca de dois gumes
Apontada para tuas nádegas
E enfim tú verás
Que não valeu de nada
As tuas tristes mágoas

* Dedicado a Laécio Galileu

Edilberto Vilanova

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Santos!!!

Somos o fruto perdido da plantação, sonhado nos cabarés
Banhado a vinho maravilhoso
Produzido sobre os pés de negros passados
Fui e somos, eu e meu presente, o passado daquele futuro que nunca vem

Comprei um quilo de esperana nos olhos da negra de bunda larga
Bunda como aquela ilude vários olhos de bundas inimaginaveis
Será que somos perfeitos quando o bico do peito de nossa amiga ficou à nossa frente
Eu fui tão perfeito que quis tê-lo sempre
Ah como sou santo de olhos fechados
Nessa hora as bundas não fazem mal
Elas apenas aparecem onde niguém consegue pegar

Arlam Marques

Super(nova)

Quando o sol puser a cara do mundo
Cara-a-cara entenderei que o intinerário é raio perdido
Entre o Câncer e a Aids
E a química desabrochada do corpo
O tronco desatinado e oco
Discrepará os rios(ultra) violetas
E a terra será purpura ou flash vermelho
Um delta de fogo, um grito
um susto, uma dor e um rito
tambores ritmando o ritmo descompassado da vida

E quando o sol for a cara do mundo
Não haverá fronteiras nem continentes
Haverá radioterapia e quimioterapia
e assim, entenderei o vazio que há
entre meu corpo e o corpo alheio

Enfim saberei do meu avesso
Do meu caminho e meu endereço

Edilaberto Vilanova